outro sonho, 23-24/03

Na casa de A., que mora no 902 e tinha me prometido uns diários de quando ela fez uma viagem a um país do oriente médio que eu não conhecia. Ela tinha falado ao telefone comigo com empolgação,mas me recebeu em casa com total indiferença. Ela me deixou entrar e permaneceu sentada à mesa, trabalhando em algo com gráficos, cheques e fotografias. Não conversava comigo, mas via-se claramente que ela mais queria que eu fosse embora. Então, com impaciência, ela abriu outro cômodo da sala e me mostrou o teto coberto de plástico porque havia mofo em toda parte. Ela disse que eu não falasse alto demais para não acordar a criança, sua filha de oito meses de idade que dormia. Não recebi os diários.

estas máquinas

grafite e aquarela s/ papel,210 x 148 cm

grafite e aquarela s/ papel,
148 x 210  cm

Sabemos do perigo destas máquinas. Estas máquinas servem somente por causa do insuportável que se vive. Mas estas máquinas apenas servem. Elas não dão conta de cada tijolo e cada gesto, e cada aspecto de olhos. Elas não chegam até isso. Às vezes se esquecem, mas estas máquinas servem para esquecer o que deve ser esquecido e lembrar o que deve ser lembrado. Qualquer erro acarreta desastre. Seu mecanismo antigo, usado em poemas e diálogos e gramáticas, esconde etimologias e cai no momento em que as sílabas se tornam difíceis. Estas máquinas não servem, mas nada serve além destas máquinas. O que é olho, carne e som só chega até mim através destas máquinas. Quando eu estiver cansado, estas máquinas me servem de repouso. Quando trabalhamos, trabalhamos estas máquinas. Se não existe algo de distinto, a máquina não para. Ela começa na primeira palavra. Começa sempre, mas não termina até que morram a língua e os dedos. Qualquer erro acarreta mudez.